15/06/2022 às 00:51 Reflexões

O Menino que subia no telhado para fotografar a Lua

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Eu sempre tive um grande fascínio pelo céu, principalmente o céu noturno. 

Foi por conta do céu que eu comecei a fotografar.

Quando comprei minha primeira câmera (uma sony hx350 usada e a mesma que usei para fazer esta foto da lua de hoje) as primeiras coisas que me propus a fotografar foram os insetos do meu quintal, as plantas, os passarinhos e, durante a noite, tentar fotografar a lua e as estrelas. A primeira vez que vi a lua perfeita no viewfinder da câmera eu entrei em êxtase. Pra um menino que pegou uma câmera poucas vezes, conseguir controlar o modo manual e fazer uma foto da lua com todos os seus detalhes, sem borrar nem errar o foco, é uma coisa absurdamente fantástica. Me senti o melhor e maior fotógrafo do mundo quando consegui isso. 

Hoje vi a lua maravilhosa no céu e me lembrei que ainda tenho aquela câmera linda e fofa que chamo carinhosamente de Baby. Resolvi me lembrar das noites que ia dormir tarde tentando fazer a melhor foto possível da lua, das estrelas, das nuvens, do telhado, da rua e algumas vezes de mim mesmo no meio de tudo isso. O prazer da descoberta, as incertezas e sonhos por trás de tudo aquilo são coisas que eu jamais posso perder. O menino que tirava fotos no telhado de casa e que sonhava com muito menos do que tenho hoje precisa permanecer olhando a lua com o mesmo fascínio, sob o risco de perder seu brilho caso não o faça.

A lua e o céu me fazem lembrar de quão pequenos somos e de quão grande é possível ser. Ao mesmo tempo que nos obrigam a ver a nossa pequeneza eles nos apresentam a vastidão de um universo infinito. Quando olho pro céu, no meio daquele breu povoado por pequenos pontos de luz, por incrível que pareça, não me sinto só. Na verdade me sinto imenso como o céu e pequeno como uma estrelinha no meio dele. Como poucas vezes na vida, me sinto do tamanho que preciso ser.

Hoje ver a lua e fotografa-la com a minha primeira câmera e o tripé que veio com ela, me fez fazer mais do que apenas fotografar uma das coisas mais lindas que existem. Me fez lembrar de quem eu sou e de como apesar de todas as coisas que nos acontecem, todas as mudanças e reviravoltas, a lua e o céu sempre estão e estarão lá para nós. Estarão pacientes, respeitando seus ciclos, com a sabedoria de quem já viu a nós, os finitos homens, construírem e descontruírem o mundo inúmeras vezes, geração após geração.

Enquanto nós corremos e muitas vezes não nos damos o tempo nem de observa-los, ou mesmo de ler um texto curto em uma rede social, ou ver algo por mais de 15 segundos e uma tela, a lua e o céu estão lá, vivendo seus ciclos pacientemente. E quando nós nos formos eles ainda estarão lá. E talvez, mesmo a lua e o céu estando onde estão todos os dias, passemos a nossa vida inteira correndo sem perceber ou parar para ver o que um menino via todas as noites no telhado de casa, enquanto tentava fazer a mais linda imagem da lua, do céu, das nuvens, das telhas, da rua e algumas vezes até dele mesmo, mas que hoje já não consegue mais apreciar com tanta atenção e frequência.

A Lua hoje me mostrou algo muito bonito dentro de mim, que estava esquecido e que precisava ser iluminado. A lua me mostrou que não importa quantas coisas tenhamos para fazer, quantos deveres tenhamos para dar conta, quantas tarefas tenhamos a cumprir e nem quanto o mundo exija de nós, jamais podemos deixar de perceber que estar aqui é um grande presente. Que precisamos apreciar cada momento e nos permitirmos enxergar toda a beleza que nos rodeia. A vida é um verdadeiro milagre e o maior de todos os pecados que podemos cometer é esquecer que a vida é um verdadeiro presente. Apesar de tudo precisamos enxergar o mundo em profundidade e nunca podemos perder o encanto pela magia que existe em todas as luas que presenciamos, todo nascer e sol poente, as ondas que quebram no mar, o amor entre as pessoas, as famílias que se iniciam, as crianças que nascem, as vidas comemoradas em cada aniversário e tudo mais que faz a nossa existência. Viver é algo sublime e é por isso que não podemos apenas passar por aqui.

Sou feliz por construir uma história que é cheia de outras histórias e por poder ser alguém que, mesmo por pouco tempo, participa de momentos tão bonitos. É um privilégio poder apreciar a grandeza e a beleza da vida em tantos momentos diferentes. Jamais imaginei que a fotografia significaria tanto para mim. Jamais imaginei que as fotografias no telhado, aquelas que alimentavam meu espírito e a minha mente, também seriam o que mantém meu corpo. E hoje a lua me mostrou que a fotografia não pode ser apenas um negócio, nem um pedaço de papel, nem uma coisa bonita que a gente coloca na rede social. Ela tem que ser tudo isso, mas tem que ser mais. E pra ser mais, precisa ser feita com o olhar do menino que sobe no telhado para fazer a mais linda foto da lua, das estrelas, das nuvens, do telhado, da rua e algumas vezes dele mesmo, de um jeito que ninguém mais faria.

15 Jun 2022

O Menino que subia no telhado para fotografar a Lua

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